sábado, 19 de janeiro de 2008

Leni Riefenstahl: a força das imagens (2005)


Introdução

Na Alemanha governada pelo Nacional-Socialismo, as artes visuais e também o cinema, o teatro e a música desempenharam um papel chave na construção do regime sendo um dos mais importantes elementos na promoção e realização daquilo a que Adolf Hitler chamaria de “comunidade do povo”. A produção de imagens minuciosamente elaboradas tornou-se um dos pilares na construção do Reich e do “novo homem alemão”. Para isso, o governo nazi estabeleceu um vasto sistema de apoio às artes, reconhecendo assim a relevância das artes na formação da mentalidade de um povo. O projecto nazi ganha, assim, uma dimensão poderosa, através da fabricação de um elaborado projecto estético.

Hitler chegaria a afirmar que a sua forma de fazer política era a “obra de arte total”. Quer encaremos esta faceta do ditador nazi como mais um capricho ou uma perspectiva da sua loucura, não poderemos negar que a sua percepção do poder da arte, sobretudo do cinema, teve um papel determinante na maneira como este galvanizou o povo alemão para o seu projecto.

Hitler, na sua missão de limpar a Alemanha daquilo que chamava “cultura bolchevique”, expulsou do seu país todas as manifestações do modernismo, tanto nas artes como na literatura. A sua intenção, ao pôr em prática estas purgas, era evitar a alegada “degeneração” daquilo a que chamava a “arte alemã” Estes padrões de “degeneração artística” foram estabelecidos partindo dos seguintes critérios: Para ser arte alemã genuína, qualquer obra devia ter por mote a glorificação da nação alemã através de representações da beleza, da força e da destreza dos alemães. Por outro lado, deveria seguir os mesmos padrões do século XIX, especialmente os do Romantismo, tanto nas artes plásticas como na música.

A eminência do totalitarismo fez com que, inevitavelmente, muitos escritores e artistas alemães tivessem que procurar o exílio para escapar às perseguições Foi o que se passou com artistas como o conceituado realizador Fritz Lang. O realizador austríaco tinha chamado a atenção de Hitler com o seu filme “Metrópolis”. Mas quando recusou um “convite” de Joseph Goebbels para ser o que Hitler andava à procura, “o realizador de cinema do III Reich”, percebeu que já não tinha lugar naquela nação alemã que o Führer idealizava.

Além de não partilhar as convicções que sustentavam a ideologia Nacional-Socialista, pois era um humanista, Lang tinha ascendência judaica, e mais cedo ou mais tarde isso seria descoberto pelo regime. Assim, no dia seguinte à conversa com Goebbels, Fritz Lang viajou para Paris, fugindo às consequências previsíveis da sua recusa ao convite. Acabou, pouco tempo depois, por viajar para os Estados Unidos, tendo aí alcançado o sucesso como realizador. Muitos artistas, escritores e filósofos seguiram o seu caminho.

Mas houve artistas que se renderam aos encantos mediáticos de Hitler. E mais do que isso, fortaleceram a sua política de segregação racial. O Ministro da Propaganda Goebbels levava a cabo uma campanha mediática sem precedentes, que, ao mesmo tempo que afirmava cientificamente a superioridade ariana, incentivava ao ódio à raça judaica, com a intenção de que o povo alemão passasse a ver o povo judeu como “inferior”, “impuro”, e em última análise, a “causa de todos os males da Alemanha”.

A jovem Leni Riefenstahl, que tinha já atingido algum reconhecimento como bailarina (tendo abandonado esta carreira, por causa de uma lesão), gozava de grande popularidade como actriz e dava os primeiros passos no sucesso como realizadora.Em 1932 surpreendeu até o próprio Hitler, quando escreveu, realizou e produziu, desempenhando ainda o papel principal no seu filme de montanha, “Das Blaue Licht”- “a Luz azul”. Ainda nesse ano, o líder convidou Riefenstahl para realizar o seu documentário épico “Triumph des Willens”- “O triunfo da vontade”, que viria a ser considerado como a grande obra-prima icónica da governação e talvez mesmo de todo o ideal nacional-socialista.

A abordagem feita neste texto procura, ao mesmo tempo, avaliar o poder da imagem neste regime em particular, e pôr em evidência a genialidade desta artista, que sobreviveu à queda do regime, e embora não tenha voltado a realizar grandes filmes, ainda se conseguiu impor no mundo da fotografia. Procuramos aqui mostrar o seu trabalho ao longo das “cinco vidas” que diz ter vivido. Analisando a relação da sua obra artística com a esfera de poder nazi. Evidenciando também a sua capacidade sem igual para captar imagens e a sua formidável destreza para improvisar novas soluções para as questões técnicas ou logísticas que se lhe deparavam.


Hitler, artista frustrado e político do espectáculo


Adolf Hitler, na sua concepção estética do mundo, pretendia tornar a nação alemã mais bela, a cada nascimento que houvesse. O Führer chegou de facto a admitir, pouco antes de dar início à II Guerra Mundial e ao mais bárbaro projecto de extermínio da história humana, que “gostaria de ter trabalhado em arte". Procuramos abordar aqui também a perspectiva do nazismo enquanto um projecto estético e artístico, embora fortemente megalomaníaco e até paranóico. Para isso, nada melhor que começar por analisar esta tendência artística do marcante líder.

As primeiras pretensões de Hitler para seguir uma carreira no mundo das artes visavam as áreas particulares da pintura e da arquitectura. Aos 15 anos, assiste, em Linz, a sua terra-natal, à representação da ópera “Rienzi”. Ficou profundamente impressionado com a estética wagneriana, tendo desde logo iniciado a sua fixação pela obra de Richard Wagner. Hitler começa a traçar os seus primeiros planos para o futuro da Alemanha através da forma como Wagner enaltecia os tempos da Antiguidade, com os seus mitos e os seus heróis.

Aos 18 anos, candidata-se a uma vaga na Academia de Arte de Viena, para a qual é recusado. Este facto terá sido um ponto de partida para a sua atitude de recusa aos padrões artísticos que estavam a florescer por toda a Europa. Nos seus delírios estéticos, a pequena cidade de Linz merece um lugar de destaque. Preconiza a sua cidade natal como a futura metrópole cultural do mundo, perto da qual “Viena pareceria ofuscada”.

A encenação da ópera wagneriana era, para Hitler, sublime. O músico fascinava o Führer não apenas pela sua música, cujos dramas musicais glorificavam o passado mitológico e heróico da Alemanha, mas também pelas suas ideias nacionalistas e anti-semitas. O melhor exemplo desta divisão entre raça pura e raça impura seria a sua ópera “O anel dos nibelungos”. Todas as composições que fugissem aos padrões wagnerianos eram banidas. A música de autores como Arnold Schönberg, Alban Berg ou Kurt Weill e muitos outros, para citar apenas os que tiveram maior importância no panorama musical do século XX, foi banida, rotulada de “Entartete Musik”, ou “música degenerada”.

Em 1937, Goebbels entendeu que era tempo de limpar os museus e as galerias de arte das obras que lhe pareciam degeneradas, e assim, planeou organizar uma exposição de Arte Degenerada. A exposição foi um êxito enorme e Goebbels organizou com ela uma tournée por todo o país. Por toda a Alemanha foram abertas exposições com a dita arte degenerada, numa tentativa de que o povo alemão tomasse consciência dos alegados perigos, para os quais se “encontrava protegido” pelas limitações do regime. Nas Belas-artes, foi levada a cabo uma campanha de reunião das obras da alegada “Galeria de Arte Alemã”.

Estas peças começaram a ser literalmente “caçadas” em toda a Europa subjugada. Hitler escolhe as peças pelo catálogo e os seus subordinados tratavam de as encontrar e confiscar. Nos anos de 1942 e 1943, a rapina artística chega a três mil peças, incluindo quadros de artistas das mais diversas nacionalidades e épocas, como obras de Da Vinci ou Rembrandt. Uma vez que a maior parte das obras modernas retratam problemas, angústias profundas ou outras paixões com crueza, ou por outro lado, exploram novas vertentes da expressão plástica, não era de estranhar que Hitler não as quisesse no mundo bonito e esteticamente perfeito que seria o seu Reich de mil anos.

Durante a invasão da França, Paris é poupada da destruição graças aos caprichos estéticos do ditador alemão. Hitler terá comentado.com Speer: “Paris não é linda? Pensei muito se devia ou não destruir Paris. Mas quando Berlim estiver pronta, Paris será uma sombra. Então porque destruí-la?”

A técnica estética de Wagner, que tanto fascinava Hitler, seria utilizada nos seus comícios, nos quais o Führer era, ao mesmo tempo, cenógrafo e actor principal. A plenitude estética destes espectáculos de demonstração de poder será alcançada com uma encenação perfeita do Congresso de Nuremberga, realizado em 1934, coreografado pela cineasta Leni Riefenstahl com a intenção de fazer um documentário que enaltecesse ao máximo a determinação do povo alemão: “O triunfo da vontade”.


Leni Riefenstahl – cumplicidade ou ingenuidade?

São muitas perguntas em torno de Leni e sua obra. Assim como são, desde sempre, as questões em torno da temática da arte. Muitas perguntas possíveis e ainda mais respostas. Arte é propaganda? E a propaganda política pode ser artística? Como artista, pura e simplesmente, ele pode fugir à culpa, se concordamos que a arte não é comprometida com a política.

Os seus trabalhos em cinema que foram mais reconhecidos foram os exímios documentários patrocinados pelo nacional-socialismo alemão. Foram também o seu maior pecado, do qual nunca viria a ser absolvida. “O Triunfo da Vontade” foi, ao que tudo indica, assim baptizado pelo próprio Hitler. Este documentário filmado por Leni, é, sem sombra de dúvida, a exaltação e a glorificação do regime e do seu líder. Como pano de fundo, o 6º Congresso do Partido Nacional-Socialista, que decorreu em Nuremberga entre os dias 4 e 10 de Setembro de 1934 sob o lema. “Congresso da Unidade”.

O Filme não tem qualquer comentário. Apenas combina as imagens com música original, composta propositadamente e complementada com hinos nacional-socialistas. Este filme, sonoro, a preto e branco e com a duração de 114 minutos, aliado às encenações de Speer, veiculou de forma, magistral, não só a ideologia nazi, como o mito da supremacia ariana. Consequentemente, levou ao rubro milhões de fanáticos seguidores.

“O triunfo da vontade”é, para muitos críticos, um dos melhores, senão mesmo o melhor filme de propaganda jamais feito. Para a sua concretização, foram utilizados inéditos truques e artifícios, uma panóplia de técnicas inovadoras, que iriam consagrar Leni Riefenstahl como inventora de diversas técnicas de filmagem.

“Foi como ser atingida por um raio”. É com esta frase que Leni descreve a primeira vez que ouviu um discurso de Hitler. Assim como ela, praticamente toda a população sucumbiu á hipnose que o Führer exercia sobre as multidões. Não havia quem não fosse tomado de orgulho por pertencer àquela comunidade ariana ao assistir Triunfo da Vontade ou Olímpia. Em relação ao primeiro, o próprio título já diz tudo. Triunfo da vontade: vontade de um povo de ter um líder, de reorganizar o caos, de retomar a supremacia nacional

E a cineasta foi, sem dúvida, um dos motores desse fascínio quase inconsciente que assolou a mentalidade “ariana” que permitiu que Hitler se mantivesse no poder até à destruição total da Alemanha. Os dois filmes que realizou ao serviço de Adolf Hitler, “Olímpia” e “O Triunfo da Vontade”, mais do que servirem o ditador, inserem-se perfeitamente na estética e no imaginário ideológico do nazismo.

No documentário realizado por Ray Müller, Riefenstahl defende-se, afirmando que fez os filmes daquele modo justamente porque o que lhe encomendaram não eram meros documentários de actualidades, mas sim verdadeiros filmes, grandiosos, que enaltecessem o regime ou “o povo ariano”.

Ainda no documentário, quando Müller insiste na ideia de que os filmes revelavam uma real adesão, e não apenas profissionalismo, Leni perturba-se. Talvez por um sentimento de culpa de ter um dia acreditado naquele “sonho alemão”. Afirma ainda que, durante toda a guerra esteve retirada nas montanhas, a trabalhar num filme e, por isso ter-lhe-ão “escapado as partes do horror da guerra, e a totalidade das atrocidades nazis”.

Se observarmos toda a obra da artista, vemos que existe pelo menos um traço comum ao da estética do nazismo, ou seja, uma estética que passará, por um lado, por um certo fascínio pelo movimento de massas, e, por outro, pela exaltação do corpo. E muitos. O que não bate certo nesta ideia é o facto de Leni evidenciar a perfeição dos corpos dos africanos, visto que esta era considerada uma “raça inferior”.

Se “O Triunfo da Vontade” é um exercício de encenação e coreografia das grandes multidões disciplinadas, quer “Olímpia” quer os filmes dos nativos Nuba, do Sudão mostram uma enorme contemplação dos corpos perfeitos, num sentido em que o desporto não é mais do que uma encenação das lutas guerreiras, estando aqui uma outra das inúmeras pontes que ligam os dois filmes admiráveis à sua estadia com o povo Nuba.

Leni nunca parou de procurar, de descobrir, de fotografar e de filmar, num misto de curiosidade e aventura, que tem, também ele, marcas profundas do que foi o século XX. É curioso notar que Leni Riefenstahl, primeiro no seio de uma sociedade fortemente masculinizada e depois na sua condição de derrotada infame, sempre apareceu como uma mulher liberta, assumida, liberal, símbolo de uma certa afirmação feminista.

Mas nunca poderemos negar que os dois filmes que Riefenstahl fez para Hitler, são filmes verdadeiramente políticos, verdadeiramente "nazis". Foram concebidos, não só como documentos, mas também como instrumentos de propaganda. Foram mais do que meras celebrações, são parte integrante da construção de uma lógica, de uma visão. Não estiveram apenas ao serviço de Hitler; integraram verdadeiramente o nazismo, eram uma parte determinante do marketing nazi.

“Cinco Vidas”

Não me é fácil virar as costas ao presente e mergulhar no passado, tentando compreender a minha vida em toda a sua estranheza. Sinto-me como se tivesse vivido muitas vidas, experimentado os altos e baixos de cada uma delas, como as vagas do oceano, sem nunca ter descanso. Através dos anos, procurei sempre o invulgar, o maravilhoso, os mistérios no coração da vida.


in Leni Riefenstahl, Memórias


Helene Bertha Amalie Riefenstahl nasceu a 22 de Agosto de 1902, em Berlim, no seio de uma família de classe média-alta. Aos 16 anos dá os primeiros passos no mundo das artes, aulas de expressão corporal e “ballet” clássico. A sua “primeira vida” terá assim sido a dança, que lhe viria a abrir as portas do mundo do cinema. Estreia-se como actriz, em 1926, no filme “Der Heilige Berg”, ou “A Montanha Sagrada”, porque o realizador precisava de uma protagonista que soubesse dançar. Como Leni tinha sofrido uma lesão que a impedia de ser dançarina em pleno, resolveu aceitar o convite, e iniciar assim a sua carreira como actriz.

Este era apenas mais um dos muitos filmes de montanha que se realizaram na Alemanha durante os anos 20. Este género cinematográfico tinha por principal característica o enaltecimento da força física e da própria raça, ou seja, um género marcado por um forte nacionalismo, alimentado por uma exaltação a um misticismo que caracterizava o que viria a ser chamado “cinema nacional-socialista”.

Mas daremos aqui mais destaque às suas outras “três vidas”, Como realizadora, fotógrafa e mergulhadora. Vamos assim tentar uma interpretação, através da análise de algumas das suas obras, para tentar melhor entender o seu apurado sentido estético Começamos pelo seu filme “Olímpia”, onde encontramos a marca do que foi realmente a sua obsessão mais duradoura: as formas dos corpos perfeitos. O filme foi rodado em apenas 15 dias, tempo que duraram os 11ºs Jogos Olímpicos da era moderna, realizados em Berlim de 1 a 16 de Agosto de 1936.

A realizadora levou a cabo um notável trabalho de concepção e montagem, que ainda hoje é considerado uma obra-prima, no que toca à estética da captação de imagens desportivas.

Para conseguir captar as imagens que queria, Leni viu-se várias vezes envolvida em discussões com os membros do Comité Olímpico, por causa das arrojadas e inovadoras técnicas de imagem que pretendia por em prática, como, a colocação de câmaras em pontos estratégicos do estádio, as imagens colhidas em câmara lenta e a utilização de lentes de longo alcance, nomeadamente a inovadora lente de 60mm



Usou também uma câmara montada numa espécie de catapulta, para filmar os sprints, e câmaras montadas no chão, de modo a captar as imagens dos atletas com o céu no fundo.



Outra inovação da artista foi a utilização de uma câmara para captação de imagens subaquáticas. Para filmar os mergulhos para a piscina, colocou operadores em vários locais, cada um deles com a sua câmara a uma velocidade diferente, que fez os atletas parecerem pássaros a voar nos céus. Após a montagem, o resultado foi supremo






Concebe um sistema de fossos, de onde filma os atletas a correr e a saltar, enquadrados de encontro ao céu. As corridas de remo são filmadas de uma ponte a centenas de metros de distância e, todos os dias, é lançado um balão no estádio para filmar o espectáculo desportivo. Manda construir duas torres, para a captação de imagens no interior do estádio. Duas no meio e uma outra por trás do local de partida dos 100m barreiras. Câmaras com velocidades entre os 24 e os 120 fotogramas por segundo, colhem fabulosas imagens. No entanto, nem sempre foi bem sucedida nas suas pretensões. Nunca conseguiu, por exemplo que a deixassem catapultar-se pelos ares, com uma câmara nas mãos, para colher imagens, por exemplo, do lançamento do dardo.

Como a montagem de “Olímpia” durou 18 meses, o filme só foi estreado em 1938, dois anos após o início das filmagens. Além de ter sido um sucesso nessa altura, ainda hoje faz parte dos programas das escolas de cinema, como um grande exemplo da arte do documentário.
Durante os anos 70, e depois das suas tentativas de voltar a realizar filmes serem “boicotadas”, como afirma, lançou-se à descoberta de África com o mesmo espírito aventureiro com que tinha aprendido a fazer montanhismo para o seu primeiro papel principal como actriz. Viveu longas temporadas junto de tribos sudanesas, conhecidos como os povos Nuba. Estas tribos partilham uma cultura na qual os seus corpos são considerados ”uma forma superior de arte”.

Para desenvolver uma relação de confiança, para fazer o seu trabalho da melhor maneira possível, como era o seu hábito, chegou a aprender a língua local. As imagens por si captadas dispensam os nossos comentários:


Depois de cerca de quinze anos preenchidos com as suas viagens a África, ainda conseguiu surpreender toda a gente, quando aos 73 anos foi fazer um curso de mergulho. Como pensou que não a teriam aceite se tivesse revelado a sua verdadeira idade, falsificou a sua idade no boletim de inscrição, dando como data de nascimento o ano de 1922. Só no fim do curso viria a revelar a sua verdadeira idade, deixando estupefactos os seus colegas de curso e os monitores.

Incrivelmente, nos anos seguintes viria a realizar perto de 2000 mergulhos, durante os quais iria, uma vez mais surpreender toda a gente, ao dedicar-se à arte das filmagens e fotografias submarinas. Também nesta área introduziu muitas novidades, nomeadamente na escolha das lentes para conseguir os efeitos subaquáticos pretendidos., que lhe torna possível ver tudo com incrível nitidez e captar imagens de rara beleza.

Teve ainda uma tomada de posição contra destruição sistemática do meio submarino, inscrevendo-se no Greenpeace. Se nos abstrairmos da componente política da sua vida, e nos centrarmos única e exclusivamente na sua obra, não podemos deixar de encarar Leni Riefenstahl como um marco incontornável da história do audiovisual do século XX.


Conclusões


Riefenstahl defende-se até hoje das acusações de colaboracionismo nos massacres nazis, alegando que não era mais que uma “artista ao serviço da sua arte”. Afirma que o esplendor hipnótico, que conseguiu na sala de montagem, consistia basicamente no modo como idealizou a variação entre as imagens de grande angular da multidão que assistia ao comício intercalados com grandes planos em “close-up” de Hitler, que lhe dão aquele ar majestoso e todo-poderoso.


Seria um perfeccionismo unicamente técnico. Leni diz que só fez os filmes assim, porque seria “incapaz de fazer coisas mal feitas”. Quanto ao que considerava ser a sua maior capacidade, não hesita em dizer que era a realização de filmes. Além disso, afirma ainda:” Só me tornei fotógrafa porque, depois do final da guerra, boicotaram-me e nunca mais consegui que me deixassem fazer mais filmes”. Ao invés de outros artistas, que afirma terem tolerado ou apoiado o fascismo europeu e puderam continuar as suas carreiras quando a guerra acabou, como Roberto Rossellini, Salvador Dali, Richard Strauss, ou Herbert von Karajan.


No final do documentário, Ray Müller diz a Leni Riefenstahl que “sente que as pessoas querem que assuma a sua culpa.” Ela responde-lhe imediatamente: “O que quer dizer com isso? Sou culpada de quê? Nunca aderi ao Partido Nazi nem fui anti-semita! Nunca lancei bombas atómicas nem denunciei ninguém! Sou culpada de quê? Diga-me, de quê?” Resta-nos assim aceitar ou não os seus argumentos e analisar a sua obra para tirar as nossas conclusões pessoais.


Fontes


“Leni Riefenstahl – cinco vidas”, Taschen, 2001

Documentário “A maravilhosa vida horrível de Leni Riefenstahl”,
Omega Films & Nomad Films 1993

http://www.leni-riefenstahl.de/


http://www.ipv.pt/forumedia/4/8.htm


http://www.mnemocine.com.br/aruanda/leni.htm


http://dossiers.publico.pt/dossier.asp?id=969

http://www.cinema2000.pt/ficha.php3?id=3084&area=cronicas

http://en.wikipedia.org/

http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=2776


http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/leni.htm


http://semiramis.weblog.com.pt/arquivo/2003/10/leni_riefenstah.html

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